terça-feira, 2 de março de 2010

Casas Eny: Um comércio que fez História

Casas Eny: Um comércio que fez História

Rosiméri Nunes

RESUMO

            O presente artigo esta delimitado ao período de 1924 até aos dias atuais, sua instância para a história de Santa Maria, demonstrando como as Casa Eny tornou-se próspera e bem sucedida com o passar das décadas. O ambiente não é favorável a abertura de novos empreendimentos, pois o mundo esta sob efeitos as 1ª Guerra Mundial. Mas a idéia de uma loja de calçados masculinos e infantis vai se consolidando cada vez mais no imaginário do de Luiz de Andrade, seu fundador. Santa Maria era um pequeno município no centro do Rio /grande do Sul, possuía vinte e dois mil habitantes distribuídos em três mil casas. O ponto escolhido para o novo estabelecimento comercial foi uma sala pequena e escura na Rua Silva Jardim, distante do Centro Comercial da época (1920). Para realizar este artigo foi lido: História do município de Santa Maria e do extinto Município de São Martinho, de João Belém (1933); Uma loja, uma vida, de Edmundo Cardoso (1974); Santa Maria panorama, histórico-cultural, de Aristilda Rechia (1999) e fontes documentárias como: Jornal a Razão e Correio do Povo.

Palavra chave: Casas Eny, comércio, História de Santa Maria

1 INTRODUÇÃO

            Propõe-se demonstrar o quanto esse pequeno comércio de calçados que era no início as Lojas Eny, inaugurado em 1924, tornou-se de extrema importância para o desenvolvimento de Santa Maria. A pesquisa relata a trajetória de um jovem, e como este se transforma em um dos mais bem sucedidos empreendedores do município de Santa Maria. Este empreendedorismo sera refletido no aumento de empregos e no repasse de impostos ao setor político. As Casas Eny é uma das principais protagonistas na História do comércio de Santa Maria.
            Para um melhor entendimento do leitor, o texto foi dividido em subtítulos que delimitam a pesquisa; são eles: Uma nova loja e as Casas Eny nas últimas décadas.

1.1  Nasce uma nova loja

No dia sete de outubro de 1924, às sete horas da manhã, uma nova loja esta sendo aberta em santa Maria, duas pessoas estão presente: Seu proprietário e seu único funcionário Salvador Isaia. Relata Cardoso (1974)

Andrade deixa de sobreaviso: agora é contigo, fique aqui e lembre-se do que te ensinei. Se precisar de troco, tu sabes a minha casa fica aí em frente; mais tarde eu volto. Com isso Salvador expressando seu rosto uma ansiedade e vivacidade de comerciante nato pela profissão e logo se dirigiu ao freguês:
- Bom dia seu Etelvino, desejas algo? Ele respondeu.
- A quanto tempo a loja abriu, quem é o proprietário?
Salvador responde:
-  A loja abriu agora mesmo, e eu não vendi nada ainda. O dono é o Luiz Andrade ele esta ali em frente em sua casa.
- Me dê algo barato que eu te compro como teu primeiro freguês para te dar sorte nos negócios (CARDOSO, p.15)

               

Com o pouco dinheiro que entrava na loja da Avenida Rio Branco, esquina com a Rua Silva Jardim, Andrade passa a vender calçado feminino e masculino. Em 1927 é inaugurada a lojinha de calçados feminino, “Eny” um nome bonito, curto e fácil para as pessoas guardarem.
Em 1932, as Casas Eny abre a sua primeira filial no térreo do Edifício da União dos Caixeiros viajantes (SUCV), na Avenida Rio Branco com a Praça Saldanha Marinho, onde permaneceu até 1940. Em 1939 salvador Isaia assume a direção das Casa Eny.
Com a morte de Luiz de Andrade em 1941. Salvador Isaia compra sua Empresa e a transfere para a galeria do Comércio. Em 1945, as Casa Eny é um comércio moderno e transfere-se para o Edifício Mauá, um dos pouquíssimos prédios da cidade, existentes na atualidade.
A inauguração da Loja Mauá em 1950, Salvador convidou Regina Cardoso, viúva do primeiro cliente das Casas Eny, Etelvino Cardoso. Em 1974, as Casas Eny comemoram 50 anos com a Edição do livro de Edmundo Cardoso, Uma loja, uma vida. O famoso jantar de 50 anos, contou inclusive com a presença do governador do estado, Sinval Guazzelli.



1.2  As Casas Eny nas últimas décadas


Muitas outras filiais foram inauguradas em Santa Maria como: Eny Boutique e a Eny Esporte (abril de 1979), Eny Infanto-juvenil (outubro 1984).
            Mesmo após a morte de Salvador Isaia, em 31 de março de 1992, outras lojas foram inauguradas: a Eny Esporte no Calçadão (reinaugurada em julho de 1994) e uma loja no Monet Shoping (março 1997) uma loja moderna, que vende produtos de todas as lojas em uma só.
            Apesar da ausência de salvador Isaia, seu legado permanece vivo nas ruas e no comércio de Santa Maria, como figura marcante em tudo que faz. Atualmente seus filhos Guido e Rafael Isaia gerenciam a rede de lojas, inclusive fora de Santa Maria.



Considerações finais:

            A longa trajetória de 85 anos das Casas eny, fez história no setor comercial do Rio Grande Sul. E foi inovado cada vez mais que o legado de Salvador Isaia prosperou, transformando-se em uma das mais bem sucedidas empresas do setor calçadista do Estado.
            As lojas Eny construíam um caminho de realizações empreendedoras, visando o desenvolvimento social e econômico de uma cidade que de início eram um entreposto comercial da Viação férrea.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Nômades, sedentários e metamorfoses: Trajetória de vida no exílio




Izabel Ribas de Mello

Glaucia Camargo

Rosimeri Nunes





A autora coloca que durante as pesquisas ela escutou depoimentos de pessoas que falaram que o exílio foi a pior coisa em suas vidas, por se manterem afastados de seu país, familiares, além de não conseguirem reconstruir suas vidas, outros já são de opinião que o exílio foi a melhor coisa de suas vidas, por terem descoberto um mundo melhor, conheceram pessoas, países, continentes, alguns conseguiram superar outros não.

O exílio dos 60 e 70 foi uma tentativa de afastar aqueles que eram contra política e econômica da ditadura militar. Tanto o exílio como a tortura, prisão política, clandestinidade e assassinatos devem ser considerados como repreção do período da ditadura militar. Ao mesmo tempo em que foi o afastamento das gerações de 1964 e 1968 foi também a liberdade, resistência e continuação da contestação.

Os fatos que marcaram este processo foi os movimentos reformistas e o golpe-militar que depuseram João Goulart e as manifestações principalmente por estudantes iniciados em 1965/1966 até 1968 se encerrando com o ato institucional nº 5. A partir do 1º de abril toda uma geração de liderança ativa na política, desde políticos, jovens, militares, passam a ser perseguidos, estes tinham em comum as experiências vividas contra a ditadura como as manifestações de rua, comícios.

Da primeira geração faziam parte pessoas maduras com profissão definida, com projetos á luta armada revalorizando a ação revolucionária fazendo uso de passeatas, greves, sequestros. Já a segunda geração quando partiram na maioria não possuíam profissão definida, tendo esta experiência no exílio, no início foram principalmente para Santiago, até a deposição de Salvador Allende (1973) e Paris, depois da derrota do governo socialista chileno.

Os exilados de 1964 sentiram muito o golpe como uma derrota do que a de 1968, pois viveu mais intensamente este momento. Para os exilados de 1964 a luta estava muito mais associada à defesa do passado, querendo preservar uma tradição que almejava mudanças. Os de 1968 desprezavam estes ideais, para eles a luta deveria ser travada do marco zero almejando um novo futuro.

As duas gerações pensavam totalmente diferentes, uma desprezava a outra, a de 68 se identificava como um marco de recomeço (recusando o ideal de populismo), a de 64 considerava a de 68 sem rumo e sem futuro (rejeitando a luta armada). Isto deixa claro que o exílio esteve longe de ser experiência homogenia, houve os que foram banidos, os que decidiram partir por conta própria, para fugirem da ambiente que se encontrava no país.

O exílio foi praticamente em três fazes importantes. Onde a primeira faze foi de 1964 até a deposição de Miguel Allende, onde a morte do presidente, a onda de terror que se espalhou pelo Chile levou com que muitos exilados deixassem o país obrigatoriamente. Outra característica é que tanto os exilados de 64 como a de 68 imaginaram que o exílio seria por um curto prazo, isto fez com que eles mantivessem o ideal de voltar ao Brasil se reintegrando à luta. Nos dois primeiros anos por acreditarem que seria um arranjo de intervalo armado por elites políticas, os exilados procuravam se mantiver informado sobre o que ocorria no Brasil. Após 1965 começaram se dar em conta que talvez não fosse isto, quando continuou a chegar mais exilados se percebe que não era exatamente aquilo que achavam,

A geração de 68 também imaginou o mesmo, entendiam que o exílio seria um tempo para poderem aperfeiçoar suas forças, fazendo uso da oportunidade do exílio para treinar nas guerrilhas em Cuba e na Coréia, estudando teoria de revolução..., nesta faze as duas gerações do exílio não haviam se dado em conta do que realmente estava acontecendo, para a maioria isto só ocorreu mais tarde.

A permanência na América Latina, o ambiente de agitação política, a proximidade do Brasil. Cuba também de grande importância, por ser vista como exemplo, principalmente o grupo de 68 treinavam entre os guerrilheiros da ilha, isto fez com que atraísse um grande número de exilado brasileiro.

Com a queda de Allende, não foi mais possível ficar no Chile, não foi mais possível que os exilados continuassem sendo apoiados, então os governos Latinos Americanos passam a recusar asilo aos brasileiros, começa então o exílio no exílio. É neste momento em que se passa a perceber a realidade do exílio, ocorrendo uma dispersão em direção à países que não queriam recebê-los.

Se da início a segunda faze do exílio, a diáspora do exílio, exilados espalhados por diversos países, onde a realidade do exílio começa a surgir, pelo fato de se passar enfrentar dificuldades de adaptação como idiomas totalmente diferentes. Com a percepção de que o retorno para o Brasil estava cada vez mais longe, a militância muda para um processo de defesa dos direitos humanos, mas mesmo assim a revolução não deixou de ser um ideal.

Ela é redefinida através das experiências no Brasil, América Latina, resurgindo um movimento de libertação nacional dos países africanos e Revolução dos Cravos, em Portugal. Na Europa passaram a ser denominados de refugiados, esta fase serviu de contatos com novas experiências que até então não eram conhecidas.

A terceira fase foi um processo de desgaste e decepção, foi definida como a fase de migração no exílio, foi uma fase onde houve um desgaste devido o processo de adaptação social, profissional que era muito baixo para as expectativas dos exilados. A busca dos países para se exilarem não se dava mais como opção de fuga, mas sim como uma opção de escolhas possíveis de sobrevivências. Foi nestas circunstâncias que redefinida a voltas dos exilados para o Brasil através da lei da anistia.

A autora coloca que o exílio foi a perda da referencias de identidade política e pessoal para a geração de 1964 4 1968, sendo a derrota de um projeto, a ruptura física e psicológica que deixou seqüelas profundas. Tem os que definem como ampliação em suas vidas, por terem entrado em contato outros países com diferentes regimes políticos, culturas, povos, dando assim outras trajetórias em suas vidas, impulsionando outros conhecimentos.

Dentro deste processo de compreensão do exílio fica claro que estes grupos que lutaram por um ideal, foram impedidos de afirmar sua identidade política, através de uma desigualdade, usando um sistema de repressão intolerante.


BIBLIOGRAFIA:



AARÃO REIS, Daniel; Ridenti, Marcelo; Motta Sá, Rodrigo Patto (org).O golpe e a ditadura militar, quarenta anos depois, 1964-2004. Bauru, S. P. EDUSC. 2004