quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Nômades, sedentários e metamorfoses: Trajetória de vida no exílio




Izabel Ribas de Mello

Glaucia Camargo

Rosimeri Nunes





A autora coloca que durante as pesquisas ela escutou depoimentos de pessoas que falaram que o exílio foi a pior coisa em suas vidas, por se manterem afastados de seu país, familiares, além de não conseguirem reconstruir suas vidas, outros já são de opinião que o exílio foi a melhor coisa de suas vidas, por terem descoberto um mundo melhor, conheceram pessoas, países, continentes, alguns conseguiram superar outros não.

O exílio dos 60 e 70 foi uma tentativa de afastar aqueles que eram contra política e econômica da ditadura militar. Tanto o exílio como a tortura, prisão política, clandestinidade e assassinatos devem ser considerados como repreção do período da ditadura militar. Ao mesmo tempo em que foi o afastamento das gerações de 1964 e 1968 foi também a liberdade, resistência e continuação da contestação.

Os fatos que marcaram este processo foi os movimentos reformistas e o golpe-militar que depuseram João Goulart e as manifestações principalmente por estudantes iniciados em 1965/1966 até 1968 se encerrando com o ato institucional nº 5. A partir do 1º de abril toda uma geração de liderança ativa na política, desde políticos, jovens, militares, passam a ser perseguidos, estes tinham em comum as experiências vividas contra a ditadura como as manifestações de rua, comícios.

Da primeira geração faziam parte pessoas maduras com profissão definida, com projetos á luta armada revalorizando a ação revolucionária fazendo uso de passeatas, greves, sequestros. Já a segunda geração quando partiram na maioria não possuíam profissão definida, tendo esta experiência no exílio, no início foram principalmente para Santiago, até a deposição de Salvador Allende (1973) e Paris, depois da derrota do governo socialista chileno.

Os exilados de 1964 sentiram muito o golpe como uma derrota do que a de 1968, pois viveu mais intensamente este momento. Para os exilados de 1964 a luta estava muito mais associada à defesa do passado, querendo preservar uma tradição que almejava mudanças. Os de 1968 desprezavam estes ideais, para eles a luta deveria ser travada do marco zero almejando um novo futuro.

As duas gerações pensavam totalmente diferentes, uma desprezava a outra, a de 68 se identificava como um marco de recomeço (recusando o ideal de populismo), a de 64 considerava a de 68 sem rumo e sem futuro (rejeitando a luta armada). Isto deixa claro que o exílio esteve longe de ser experiência homogenia, houve os que foram banidos, os que decidiram partir por conta própria, para fugirem da ambiente que se encontrava no país.

O exílio foi praticamente em três fazes importantes. Onde a primeira faze foi de 1964 até a deposição de Miguel Allende, onde a morte do presidente, a onda de terror que se espalhou pelo Chile levou com que muitos exilados deixassem o país obrigatoriamente. Outra característica é que tanto os exilados de 64 como a de 68 imaginaram que o exílio seria por um curto prazo, isto fez com que eles mantivessem o ideal de voltar ao Brasil se reintegrando à luta. Nos dois primeiros anos por acreditarem que seria um arranjo de intervalo armado por elites políticas, os exilados procuravam se mantiver informado sobre o que ocorria no Brasil. Após 1965 começaram se dar em conta que talvez não fosse isto, quando continuou a chegar mais exilados se percebe que não era exatamente aquilo que achavam,

A geração de 68 também imaginou o mesmo, entendiam que o exílio seria um tempo para poderem aperfeiçoar suas forças, fazendo uso da oportunidade do exílio para treinar nas guerrilhas em Cuba e na Coréia, estudando teoria de revolução..., nesta faze as duas gerações do exílio não haviam se dado em conta do que realmente estava acontecendo, para a maioria isto só ocorreu mais tarde.

A permanência na América Latina, o ambiente de agitação política, a proximidade do Brasil. Cuba também de grande importância, por ser vista como exemplo, principalmente o grupo de 68 treinavam entre os guerrilheiros da ilha, isto fez com que atraísse um grande número de exilado brasileiro.

Com a queda de Allende, não foi mais possível ficar no Chile, não foi mais possível que os exilados continuassem sendo apoiados, então os governos Latinos Americanos passam a recusar asilo aos brasileiros, começa então o exílio no exílio. É neste momento em que se passa a perceber a realidade do exílio, ocorrendo uma dispersão em direção à países que não queriam recebê-los.

Se da início a segunda faze do exílio, a diáspora do exílio, exilados espalhados por diversos países, onde a realidade do exílio começa a surgir, pelo fato de se passar enfrentar dificuldades de adaptação como idiomas totalmente diferentes. Com a percepção de que o retorno para o Brasil estava cada vez mais longe, a militância muda para um processo de defesa dos direitos humanos, mas mesmo assim a revolução não deixou de ser um ideal.

Ela é redefinida através das experiências no Brasil, América Latina, resurgindo um movimento de libertação nacional dos países africanos e Revolução dos Cravos, em Portugal. Na Europa passaram a ser denominados de refugiados, esta fase serviu de contatos com novas experiências que até então não eram conhecidas.

A terceira fase foi um processo de desgaste e decepção, foi definida como a fase de migração no exílio, foi uma fase onde houve um desgaste devido o processo de adaptação social, profissional que era muito baixo para as expectativas dos exilados. A busca dos países para se exilarem não se dava mais como opção de fuga, mas sim como uma opção de escolhas possíveis de sobrevivências. Foi nestas circunstâncias que redefinida a voltas dos exilados para o Brasil através da lei da anistia.

A autora coloca que o exílio foi a perda da referencias de identidade política e pessoal para a geração de 1964 4 1968, sendo a derrota de um projeto, a ruptura física e psicológica que deixou seqüelas profundas. Tem os que definem como ampliação em suas vidas, por terem entrado em contato outros países com diferentes regimes políticos, culturas, povos, dando assim outras trajetórias em suas vidas, impulsionando outros conhecimentos.

Dentro deste processo de compreensão do exílio fica claro que estes grupos que lutaram por um ideal, foram impedidos de afirmar sua identidade política, através de uma desigualdade, usando um sistema de repressão intolerante.


BIBLIOGRAFIA:



AARÃO REIS, Daniel; Ridenti, Marcelo; Motta Sá, Rodrigo Patto (org).O golpe e a ditadura militar, quarenta anos depois, 1964-2004. Bauru, S. P. EDUSC. 2004